sexta-feira, 31 de julho de 2009

Uma noite agradável



Churrasco com os amigos. Na sua casa. Acordar cedo, ir ao mercado, comprar o material, carregar peso, temperar o frango (e você só aprendeu a fazê-lo porque aquela moça especial não come carne vermelha), preparar a vinagrete. Já são 13h30, e o churrasco está marcado para as 14h. Corra, corra. Carregar a mesa até o quintal, prepará-la, separar pratos e copos. 14h. Trilha sonora escolhida a dedo. AC/DC já rola solto. Churrasqueira forrada com jornal, o carvão em seguida, o álcool. Vush! O fogo! Lingüiças, um bife. E a campainha. Pessoas, pessoas e mais pessoas. Sorrisos. Você quer que elas estejam lá. Barulho. E você não pára. Enquanto prepara e serve a carne, seus amigos lhe provocam risadas e exclamações de saudades daqueles distantes tempos de colégio. Entre uma virada na alcatra e um corte na lingüiça, um gole de cerveja aqui e ali. As garotas chegam. Um beijo, e outro, e outro. E conforme as horas passam, você se dá conta do quão maravilhoso é ter todas aquelas coisas e pessoas ao seu redor.

A tarde mingua. Alguns vão para dentro de casa. O violão, ah, o inevitável violão, aparece. Amontoados no sofá da sala, entoam In This River, Watching Over Me, Believe. As mesmas de sempre, mas você não se importa. Ama. Enquanto a churrasqueira esfria, os ânimos parecem fazer o mesmo. Uma decide embora, e outra, e outro. Hora de recolher a bagunça. Pratos sujos aqui, limpos ali, a mesa, as cervejas fechadas. Tudo jogado na área de serviço. Amanhã você dá um jeito. Quer voltar logo para o sofá e aproveitar as últimas gotas daquele dia. "Chama um táxi pra gente?". Droga. Contra a sua vontade, você o faz, e a festa que já havia se tornado reunião agora se encaminhava para uma mera visita entre amigos. Mais um beijo. Chega o táxi. "Nos vemos no domingo". Com um estampido o portão se fecha. De volta à sala, restam dois. "Somos só nós agora. Vamos conversar lá no quarto". E vão. Enquanto um toca a sua guitarra, outro lê um livro, e você se divide entre seu video game e a internet, com a qual não se encontrava havia longas 22 horas. Um telefonema. "Pra você, cara". "Estamos indo". Você os leva até o portão, leva o lixo para fora, solta o cachorro. E agora são só você e a noite.

Sua família já foi dormir. Amanhã, poucas responsabilidades e bastante diversão. Sem necessidade de dormir cedo. Sentado à frente do computador, você se lembra daquela idéia para um texto que teve na semana passada. Talvez seja hora de começar a trabalhá-la. Inteligente como se julga, vai atrás de outros textos para tentar embasar melhor o seu próprio. Tenta relê-los. Um pouco de dor de cabeça, os neurônios não funcionam direito. Talvez um pouco de jazz para massagear o cérebro. Luzes apagadas. Vinho. Miles Davis combina com vinho. Perfeito. Agora sim, aos textos. Decide mostrá-los ao amigo que horas antes estava ao seu lado em carne e osso. Começam a discutir. Logo a discussão se torna uma conversa agradável, o assunto muda. Risadas. O vinho tinto seco acaricia sua garganta e apazigua sua mente. Quanto mais ele entra, mais suscetível você fica à música, mais tem vontade de dançar sozinho, no escuro. Aquele texto sobre lutar pela sobrevida do heavy metal? Ficou para outro dia. Você está envolvido pela noite, e as idéias começam a fluir com uma suavidade etérea, quase irreal. E você as joga sobre a tela do computador. Vontade de torná-las maiores, mas ainda assim simples. Tenras.

Após um dia estupendo, maravilhoso, sensacional, você tem a felicidade de descobrir que o melhor adjetivo que uma noite solitária pode receber é 'agradável'. Não é, sob nenhum aspecto, inferior ao dia movimentado, barulhento, carnal. Mas também não é intensa, exagerada, extravagante. É somente, e sublimemente, agradável.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ricardo Bocci e Ace 4 Trays - 24/07/09



Desde que o Viper, um dos maiores expoentes do heavy metal brasileiro do final da década de 80 até meados dos anos 90, anunciou uma pausa em suas atividades, em 2008, seu atual vocalista Ricardo Bocci (ex-Rei Lagarto) vem trabalhando e investindo em sua carreira solo. Tendo lançado há poucas semanas seu primeiro single, a épica "My Way", agora Ricardo junta um time de músicos de primeira linha, incluindo o baixista Fernando Giovanetti, do Aquaria e o baterista vindo diretamente do Japão Yuichi Nagoshi para fazer shows e divulgar seu trabalho. E a primeira apresentação do grupo na capital paulistana se deu no dia 24 de julho de 2009, uma sexta feira fria e chuvosa, no Centro Cultural São Paulo.

Logo na chegada, um pouco de apreensão: era fraquíssimo o público que aguardava a abertura da sala Adoniran Barbosa, onde o evento seria realizado, e o quadro não se alterou muito nos momentos seguintes. Mesmo assim, os músicos não se deixaram desanimar. Pontualmente às 19h, os jovens integrantes da banda de abertura Ace 4 Trays adentraram o palco ao som de "Yesterday’s Gone", intro de seu debut, "Roll The Dice", que estava sendo lançado naquele mesmo dia, e deram início ao show.

Mostrando um som pesadíssimo, que apresenta claras influências de bandas como Pantera e Machine Head, os rapazes passaram por cima da falta de energia do público, que, além de escasso, estava completamente desanimado e preferia permanecer sentado, e deram uma aula de presença e empolgação. Após tocar algumas composições próprias de ótima qualidade, encerraram sua apresentação com um cover bem executado de "Roots Bloody Roots", do Sepultura. Quem estava lá para ver um show de heavy metal não teve do que reclamar.

Pouquíssimo tempo depois, após uma breve pausa para troca de equipamento, a banda de Ricardo Bocci sobe no palco e inicia sua apresentação com a já conhecida "My Way", e segue com "Miles Away", primeira composição de Ricardo no Viper, que consta no álbum "All My Life", de 2007. Em seguida, em uma pequena pausa, o frontman agradece a presença de todos e elogia a performance do Ace 4 Trays, e o show continua com "You Must Go On", canção inédita do vocalista e que segue uma linha mais cadenciada e pesada que "My Way", e tem muito potencial. Então, mais uma do "All My Life", "Rising Sun", também escrita por Ricardo, e após a nova "Taking Hell Out Of Me", anunciada pela banda como um tributo ao Megadeth, têm início os covers, com a clássica "Wasted Years", do Iron Maiden. Em seguida, mais uma inédita: "Start It Over", e o show se encerra com outros dois clássicos absolutos do mundo headbanger: "Burn", do Deep Purple, e "Eagle Fly Free", do Helloween, ambas contando com performances incríveis do baixista Fernando Giovanetti.

No geral, a apresentação da banda de Ricardo Bocci foi muito boa. O som e a organização foram impecáveis, e os integrantes se mostraram bastante entrosados e tecnicamente muito bons e criativos, com destaque para Fernando Giovanetti nesse quesito. O set list foi inesperadamente curto, contando com apenas 9 canções, das quais, com exceção dos três covers, todas foram escritas ou co-escritas por Ricardo, um fato surpreendente para aqueles que esperavam ouvir clássicos do Viper, como "Living For The Night" e "Rebel Maniac". As novas músicas próprias apresentadas pela banda são realmente muito boas e, de uma forma geral, seguem uma linha um pouco mais lenta, mais pesada e, porque não dizer, mais criativa que "My Way". Ao final do show, antes de dar atenção aos fãs, o frontman anunciou que seu primeiro álbum solo deve ser lançado até o final de 2009, e devo dizer que o projeto realmente tem futuro se seguir a linha dessas novas canções apresentadas.

Enfim, apesar do escasso e enfraquecido público, o que se presenciou no Centro Cultural São Paulo foi um ótimo evento de heavy metal, que celebrou o início para duas bandas que têm potencial para se tornarem novos expoentes do metal brasileiro mundo afora.

Esse texto foi originalmente publicado no portal Whiplash!. Para mais material de minha autoria, acesse esta página. ;)