Acho que eu cheguei a uma resposta satisfatória para aquela velha pergunta: “o que é ser feliz?”. Tenho pensado muito a respeito. Tenho vivido muito a respeito. Talvez não tanto e como eu gostaria. Mas acho que a resposta está justamente aí. Felicidade, eu acho, não é sinônimo de plenitude, nem de realização completa e eterna. A minha última semana foi tediosa, cansativa, improdutiva, levemente irritante, meio frustrante. E a conclusão que eu tirei dela é que eu sou um cara feliz. E por que?
Os últimos meses da minha vida foram, como quaisquer últimos meses de qualquer vida, de altos e baixos. Mais altos do que baixos, é verdade. Contudo, semanas como a que eu acabo de passar nunca deixaram de dar as caras, com suas pontadas de frustração e melancolia. Mas uma coisa mudou em relação a um, dois anos atrás. Eu me conheço melhor. Sei de quem se trata quando me olho no espelho. Tenho ao menos uma noção do que vai acontecer a cada movimento meu. Tenho alguma idéia da opinião que os outros têm a meu respeito, mas isso não importa: eu tenho uma opinião formada a meu respeito.
E aí? Minha opinião é de que eu sou absolutamente completo e de que não preciso de mais nada nem ninguém? Absolutamente não, ponto. É justamente o oposto disso que fundamenta o simples fato de eu estar escrevendo esse texto. Eu reconheço a minha incompletude, eu a conheço. Talvez não tenha consciência absoluta de cada um dos meus defeitos e faltas, mas tenho uma noção dos caminhos que minha mente percorre. Por outro lado, poderia começar a enumerar aqui tudo aquilo que eu acho que tenho de bom. Minhas características físicas que me satisfazem, meus talentos, meus traços de personalidade que me fazem pensar que sou um cara legal ou minimamente agradável. E a conclusão disso seria? Nenhuma. Geraria satisfação momentânea, efêmera. Saber o que tenho de bom não seria, em absoluto, suficiente para me fazer feliz.
O fato é que conhecer minhas características como ser humano, ou ao menos boa parte delas, permitiu-me encontrar uma porta velha e enferrujada, normalmente esquecida pela maioria das pessoas. Atrás dela, nenhum pote de ouro ou qualquer coisa parecida. Mas, pura e simplesmente, um caminho adequado para a minha vida. Compatível com quem eu sou. A felicidade, afinal, é isso. Saber quem você é e aprender a viver de acordo com isso. Parece tão babaca, banal. E nesse exato momento estou sentindo um certo desprezo pelo tom de auto-ajuda que esse texto adquiriu. Mas é simples. É rústico. Sem potes de ouro no fim do arco-íris.
Eu sou adepto de um modo absolutamente realista e racional de ver o mundo e a mim mesmo. Nos últimos anos, tornei-me ferrenho defensor da ótica sob a qual a vida humana é vista, pura e simplesmente, como uma conseqüência efêmera das leis da natureza. Não há propósito, razão ou um grande arquiteto por trás de tudo. Não há universo algum conspirando a seu favor. Há a natureza. Ponto. E eu e você somos frações infinitesimais dela. É nisso que eu acredito.
Mas o curioso disso tudo é que passei minha adolescência inteira acreditando em contos de fadas. Fazia questão de acreditar que tudo tinha um porquê. Por diversas vezes, procurei ‘ajuda espiritual’ para tentar me conhecer melhor. Queria soluções mágicas. Queria ser feliz, me livrar dos meus defeitos. Queria ser alegre em tempo integral. Nunca consegui. E só fui encontrar aquilo que passei a considerar felicidade verdadeira quando larguei esse tipo de crença, alienante e limitadora.
Então, estou assumindo que felicidade não é, em absoluto, sinônimo de alegria. Alegria é estado de espírito, absolutamente efêmero, e muitas vezes gerado por uma vida vivida de forma feliz, com autoconhecimento. Mas o grande lance é que, quando se é verdadeiramente feliz, se é feliz mesmo na fossa. A felicidade é um caminho, não um objetivo. Quando chega a momentos difíceis, tediosos, estressantes, pouco empolgantes, aquele que é verdadeiramente feliz saberá ultrapassar aquilo, saberá que aquilo será importante para o seu desenvolvimento, mas, acima de tudo, saberá que aquele momento de aparente infelicidade é tão momentâneo e efêmero quanto os momentos de alegria que passaram e que virão.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
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