terça-feira, 18 de agosto de 2009
Mó Num Patropí. E daí?
O povo brasileiro não prima por ser nacionalista. Acostumados com o excesso de autocríticas completamente destrutivas e, silenciosamente, cada vez mais feridos pelo complexo de vira-latas, os brasileiros raramente cultivam o hábito de se orgulhar de seu país.
É nesse momento que o leitor mais revoltado se exalta e diz: “Ora! Mas do que é que devo me orgulhar? Como posso me sentir orgulhoso de um país no qual o Estado abandona os cidadãos, obrigando os ricos a recorrerem ao sistema privado e, pior, os pobres a recorrerem ao crime?”. E eu respondo: não peço que você se orgulhe, pois também não o faço.
No entanto, não é estranho pensar que, durante a Copa do Mundo, todos pareçam se tornar “brasileiros com muito orgulho e muito amor”? Não é estranho que, quando se fala em internacionalizar o território amazônico, muitos brasileiros batam no peito e digam que “a Amazônia é nossa!”, com aquela cara de Goku Super Sayajin (sorrindo com a testa franzida, como quem diz “eu estou sendo severo, mas estou fazendo a coisa certa!”)?
Se você é brasileiro e não é um vegetal, certamente já presenciou situações desse tipo. Agora, pare e pense. Qual é o sentido desse tipo de orgulho? O Brasil pode ter uma natureza exuberante, sendo inclusive um destaque mundial nesse aspecto. Mas isso é um mero acaso territorial!
Eu não me sinto orgulhoso por ter nascido e viver no mesmo país que abriga a maior parte do território amazônico. Especialmente porque o Brasil não sabe cuidar daquilo que tem. É, na verdade, um grande motivo de vergonha que tenhamos a Amazônia e a tratemos tão mal.
O mesmo vale para o futebol. Por que eu devo me orgulhar da seleção brasileira? Eu não tenho nenhum mérito pelo fato de o Robinho, o Ronaldinho, o Zezinho ou o Luisinho, outrora meninos pobres e talentosos, terem sido descobertos por fulanos que os levaram para grandes clubes, dando início a carreiras que culminaram com participações em Copas do Mundo. O país não tem nenhum mérito por isso.
O mais revoltante de tudo é que exemplos como a floresta amazônica e o talento futebolístico de nossos jogadores são provas, em minha opinião, do enorme potencial que o Brasil abriga em suas entranhas, ao mesmo tempo que provam que o país não sabe aproveitá-lo.
Quando falo sobre tal potencial tupiniquim mal aproveitado, gosto de tomar, como ponto de comparação, o Japão. Trata-se de um país de proporções minúsculas e, no entanto, com uma população de tamanho próximo ao da brasileira. Obviamente, o espaço que pode ser dedicado à agricultura é mínimo. O Japão é, ainda, marcado por algumas regiões sujeitas a condições climáticas extremas, vulcões em atividade e ocorrência diária de terremotos. Como se isso não bastasse, seu território foi castigado, durante a 2ª Guerra Mundial, por bombardeios norte-americanos, dos quais as bombas atômicas foram apenas uma parte e, pasme, não foi a maior.
Hoje, no entanto, esse país tão maltratado pela natureza e por sua própria história, é a segunda maior economia do mundo, e tem alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. Quando falam sobre a reconstrução japonesa no pós-guerra, historiadores chamam o período de “Milagre Japonês”. Os japoneses se ofendem com tal terminologia, e orgulhosamente dizem que “não houve milagre, mas trabalho”.
A diferença entre o orgulho japonês e o brasileiro é o simples fato de os japoneses parecerem ter, e de fato terem, um motivo muito sólido para se orgulharem de seu país. Em uma comparação, o orgulho brasileiro parece forçado, parece uma manifestação mista de desespero e ignorância, de um povo que não sabe de que se orgulhar e que procura por uma identidade.
O brasileiro, se quiser realmente obter algo de que se orgulhar, precisa começar a fazer autocríticas mais construtivas, precisa aprender a cobrar mais de seu Estado, de seus compatriotas e de si mesmo em prol do país. Caso contrário, seremos o eterno “país do futuro”, com um enorme potencial mal aproveitado. Isto é, até que o mau aproveitamento seja tamanho que faça com que nossos intermináveis recursos se esgotem, e a famosa canção tenha de ser mudada para “Eu morava num país tropical”.
Esse texto foi originalmente publicado no site jornalístico Delfos.
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Victão, seu texto ficou muito bom. Já pensei muito assim sobre nacionalismo e já fiquei muito irritado com a falta do patriotismo brasileiro. O que mais me irrita são os antipatriotas. Porém, como toda unanimidade é burra, é bom que tenha alguns do contra para equilibrar a balança.
ResponderExcluirEu tenho, sim, orgulho de ser brasileiro. Só não sei de onde nasceu ou o que mantém essa chama acesa. Realmente, faltam coisas concretas de que possamos nos orgulhar. E, cada vez que Brasília sai no jornal, temos é mais motivos para não ser patriotras.
Já tinha lido este texto, dravas. Muito bem escrito, apesar de eu não ter uma posição fixa quanto ao assunto... Um certo orgulho é legal ter, e eu até tenho, mas nunca fui muito fã de patriotismo exagerado... Pra variar, o meio-termo sempre é a melhor opção (pra mim, pelo menos).
ResponderExcluirOnze dravas pra vc!!!1!1
nao gosto de patriotismo at all, inclusive sempre achei estranho que alguns grandes escritores dessem tanta importancia pra nacionalidade.
ResponderExcluiro Dostoievski nao para de falar dos russos, dizem que o James Joyce queria construir a "identidade da Irlanda"... na minha opinião hoje em dia nao é muito mais que um acidente geografico, mas se bobear no passado era realmente mais importante.
indeed muito bem escrito o/