Ele se escondeu nas sombras até não suportar mais a escuridão. Medo. Medo do claro. Medo da luz. Medo da cegueira que ela poderia lhe causar. Mas lá, além do escuro, além da parede, através da fresta sob a porta, ele ouvia a vida, respirando lentamente. Estava em coma, imersa na luz cegante, esperando pela hora de acordar. E num lapso de loucura ele se ergueu.
Movendo-se com desenvoltura pela escuridão que lhe era tão nítida, dirigiu-se à porta. E quando a simples perspectiva de abri-la estendeu-se à sua frente, suas mãos começaram a tremer, o coração acelerou. Desesperado de excitação, ele se viu dividido. Dividido entre a sede de conhecer o que o aguardava além e a vontade de permanecer para sempre no escuro, em segurança e comodidade mórbidas. Chorou. Tantas vezes aquelas paredes o haviam protegido e confortado, e agora ele as abandonava. Por dentro, ele sabia que agora as desprezava. Sabia que estavam envelhecendo, e que um dia elas ruiriam. E não queria estar lá para ver.
"Não importa, não importa", pensou. E num ímpeto, abriu a porta pesada e barulhenta, e a luz finalmente entrou. Invadiu seus olhos, que se fecharam, o cegou. Ele se ajoelhou, chorando alto, arrependido de ter feito aquilo. Chorou como chora de remorso um suicida, e só se acalmou quando começou a lentamente perceber que seus soluços agora se harmonizavam com uma respiração vigorosa, que antes era distante, vinha de fora, mas que agora se aproximava cada vez mais de seu âmago.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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